A noite dos sonhos...

Ontem, por um motivo pra lá de nobre, demorei a dormir. Ondas gigantes de felicidade inundavam minha cama. Ficava ali boiando...todo alegre!!!
O sol era um sol quente e generoso. Um sol que não queima, só produz luz espiritual.
Sem fixar os olhos, podia dizer que conhecia o sol.
Haviam sinais de algo muito próximo nele, quase um tom de intimidade, entre aquele astro e eu. Ainda nas marolas da minha cama, pude ver que o sol era a Karen.
Fiquei tranquilo e adormeci. Lembro que meu último pensamento foi um dragão poderoso e mágico vindo ao meu encontro. Ele sorria e dizia: durma amigo, durma...

Nas sacudidas do sono, uma música suave me fazia ninar. Ninar e dormir são duas coisas distintas. Ninar é voar...sonhar com tapetes de rosas brancas e mãos de fada...
No sono do ninar há um perfume de bebê...é um sabor distinto dos perfumes maduros.
É mais verdadeiro...um odor que ninguém pode esquecer.
É o cheiro da vida.
Vi no rótulo que era a Patrícia...designer do amor e da paz.
Ela piscou e disse: durma amigo, durma...

Como se houvesse um vento, as vezes sentia um frio gostoso.
Era um frio da esperança...aquele frio da maternidade, onde vamos receber nossos filhos.
É um frio brando e amoroso...quase uma emoção.
Branco como a neve e denso como um chocolate ao leite, é desse frio que todos precisam. Nele vivem esperança, brio, maturidade, solidez e renovação.
Soprava no meu rosto e sempre que podia, me virava na cama em direção a ele.
Numa dessas viradas, o vento riu!!! Eu ri também...e rindo, vento e eu falamos em francês. Fui logo perguntando: como você se chama vento?? Eu sou o vento Suzanne...piscou pra mim e disse: durma amigo, durma...

Com tanta felicidade, meu sono quase vira uma festa, não fosse pela minha professora. Ela disse firme, fingindo que não estava rindo: "todo mundo pra cama. É hora de dormir".
Pulei na minha e fiquei sem piscar.
Nossa professora ia de um lado ao outro, querendo ver se todos haviam obedecido. Bem quieto, sem fazer nenhum movimento brusco, abri uma pontinha de olho. De lá me olhava a professora, que piscou e disse susurrando: durma amigo, durma...A voz suave me lembrou a infância e vi logo que era a tia mais querida que tive; tia Tânia.
Ela saiu e fechou a porta.

Num instante, as paredes ficaram coloridas, as luzes piscavam e o ambiente virou uma algazarra. Todos pulavam e gritavam. O Nick era o Capitão; o Puga o Samurai; o Léo um perigoso Mafioso...e as meninas estavam lindas.
Tinha uma que vinha de longe e dizia: você é o Teco, eu sou a Teca...você é o Teco, eu sou a Teca...
As paredes do quarto eram de borracha. Pulávamos de encontro a ela e caímos rindo no chão. Tnham super-herois, atores famosos, esportistas e outras crianças como nós, felizes...jamais tão felizes.

Só da porta mágica que tínhamos medo.
Nesta terra dos sonhos, só tínhamos medo do Sr. C.
Um homem estranho, que falava esquisito...uma fala que nenhuma criança entendia.
Era a língua do 'C'...que ele dizia chamar Clivaz.
Nunca tinha ido a uma festa como aquela...lá estavam todos...e nosso alegria era tanta, mas tanta, que a porta do quarto abriu e nem demos bola. Tinhamos uma confiança inabalável.
Quando vimos, era o Sr. C, vestido de guarda e marchando.
Ele ria de se engasgar...e cantava: un, two, três...o Vasco é freguês!!! un, two, três, o Vasco é freguês!!!
Com tudo em paz e numa alegria que iluminava o mundo, o Clivaz piscou pra mim e disse: durma filho, durma...