No médico...

Libertação (by Marco Mussi)

- Por favor, sentem-se...disse nosso gentil médico.
Próximo de completar 70 anos, deu seu primeiro sinal...de educação. Este gesto e seu sorriso confiante, me deram a clara dimensão que estava no endereço certo...exatamente onde Deus me pôs.

- Quer dizer, Marco, que a coisa não tá lá uma maravilha...olhem o 'approach' desta alma de luz.

Muito emocionado, fiz o que pude para falar. Minha mãe e minha mulher estavam juntas na sala.
O médico é um clínico renomado, que já conhecia parte da família. É membro da legião que cuida da 'Vila do Rio de Janeiro'. Brincou comigo, falou do meu pai, do meu irmão e voltou à mim.

- Vamos deixar só o Marco falar...conte o que está havendo?

Juro que me preparei. Devo ter tentado três posições diferentes na cadeira. Olhava para o chão, embaraçado e muito emocionado.
A emoção é minha parceira de viagem; senta nos meus ombros. Jamais me abandona. Sou um chorão impiedoso...choro em todas as ocasiões que sou levado a uma grande emoção.
Fico COMPLETAMENTE VENDIDO.
As lágrimas correm e formam um caminho pelo rosto. É como uma catarse. Nos momentos mais insólitos já chorei baldes. Meu casamento foi assim...quando vi minha mulher entrando na Igreja, comecei a chorar. Se me recordo, parei na fila de cumprimento. 

Olhando o chão da sala, senti a primeira lágrima. Tentei levantar o rosto, mas achei melhor ficar...já não tinha palavras e agora havia desmoronado.
Ouvi o médico dizer: deixem ele...e ficamos em silêncio por algum tempo. Desse momento, assumi a figura da terceira pessoa.
Ouvia que estavam falando de mim, mas era como se não estivesse ali. O médico perguntava e falava. Minha mãe e minha mulher respondiam e falavam. E eu, ali...absorto...longe...talvez lá na barriga da 'mamãe'!!!


- Olhem, o Marco está com uma depressão profunda e precisa ser tratado. Uma depressão sem tratamento pode durar meses...temos que levá-lo ao psiquiatra. Esperem que vou pedir a minha secretária para anotar o nome e o telefone...

É disso que me lembro. Um homem gentil, cordato e profundamente afinado com seu papel de médico.

Sabia que havia algo muito errado comigo.
Sabia que poderia ter sido mais cuidadoso, mas naquele momento, de volta à casa da minha mãe, senti uma paz eterna.
TINHA BATIDO O PÉ NO FIM DA DESCIDA...ESTAVA LÁ DEITADO, COM OS DOIS PÉS ONDE O MUNDO TERMINA.
JÁ NÃO OLHAVA PARA BAIXO...AGORA OLHAVA PARA CIMA...E LÁ NO FINAL DA ESCURIDÃO, HAVIA UM PONTINHO DE LUZ, COMO UM FOCO DE LANTERNA SEM BATERIA...
NA NEBLINA DO MEU PENSAMENTO, SABOREEI MEU PRIMEIRO MOMENTO DE PAZ EM MESES.

NAQUELA LUZ FRACA...FINA...E LONGE...EU VI JESUS!!!

DEITADO NO SÓFA DA SALA, COM OUTRAS PESSOAS FALANDO, EU SÓ VIA O PONTO DE LUZ E A IMAGEM DE UM RESGATE DIVINO...